Eis, porém, que algo me distrai. A empresa possui um tablet colocado na parte de trás das poltronas. É claro que é algo até muito legal: afinal, mais conforto e entretenimento à bordo. Todavia, de certa forma, isso me incomodou e me colocou a pensar. Num vôo de aproximadamente 1h45m havia ali um tablet para que qualquer um pudesse assistir televisão, ou filmes ou até mesmo jogar alguns dos jogos disponíveis.

E isso é extremamente perigoso. Em primeiro lugar, enquanto nos entretemos, não estamos verdadeiramente descansando corpo e mente. Em segundo lugar, nos viciamos em estar o tempo inteiro sendo estimulados. E o que isso significa? Bem, que não conseguiremos sentar para ler, ou para refletir, ou até mesmo para estudar e trabalhar - e produzir. Cada vez mais e mais, crianças e adultos são diagnosticados com déficit de atenção. E por que você acha que isso acontece? Pelo fato de que, hoje, em praticamente nenhum lugar que se vá, consegue-se ficar longe de estímulos. O tempo inteiro somos bombardeados e estimulados - e nos habituamos a isso. Por este motivo, as pessoas já não conseguem se concentrar ou se manter focadas em uma única tarefa por um longo período de tempo. Ficar, então, sozinho, pensando e lidando com a sua própria vida, seu medos, anseios, etc? Aí, nem pensar.
E o tablet no avião me fez pensar exatamente nisso. Após a televisão, depois a internet e, agora, com os smartphones, não conseguimos, nem podemos, ficar nem cinco minutos sem algum tipo de estímulo. E quando não temos tempo para parar, para descansar e refletir, acabamos também nos tornando escapistas. Além do negativo déficit de atenção que começamos a desenvolver, passamos também a fugir de tudo aquilo que nos causa ansiedade ou nos deixa tristes. Afinal, toda vez que ficamos sozinhos, em silêncio, e notamos que aquelas questões que nos preocupam, que nos causam ansiedade, começam a surgir, logo ligamos a televisão ou pegamos um smartphone e simplesmente tiramos nossos focos delas. Elas, no entanto, continuarão lá, e a ansiedade, os problemas e tristezas continuarão a crescer enquanto não soubermos lidar com isso. E o resultado? Vemos uma sociedade cada vez mais e mais doente e cada vez mais incapaz de lidar com os seus problemas. Vemos uma sociedade, enfim, cada vez mais perdida em um loop de ansiedade e de depressão sem sequer saber o os motivos disso.
7 Comentários:
Muito bom, Leo! Às vezes, eu me sento para fazer algo com minha filha e deixo o celular distante, mas sinto uma agonia tão grande, uma vontade estranha de ir pegá-lo para ver quem falou comigo no whatsapp ou se tem mensagem nova no Facebook, no e-mail. Sinto-me refém da tecnologia, e isso é muito ruim. Uma coisa boa que fiz foi me obrigar a não utilizar a Internet móvel fora de casa. Eu já vivo conectada 24h no Wi-Fi, na rua ou enquanto converso com os amigos, não. Mas muitos deles "conversam" comigo com os olhos grudados na tela. Coisa terrível.
Divulgarei o post.
Beijos,
Isie.
Legal, Isie. E é isso mesmo. Essas notificações de facebook, whatsapp, etc, são projetadas justamente para que as pessoas quimicamente mesmo fiquem viciadas em ir dar aquela checada. São picos de dopamina.
Estímulo recebe quem quer, não tem tecnologia que obrigue uma pessoa a ser estimulado constantemente, toda essa parafernália de produtos eletrônicos podem ser controlados, desligados e silenciados. O mundo avança, as coisas mudam, o comportamenteo da sociedade também se altera. Qualquer um pode relaxar a hora que desejar mesmo que haja mil aparelhos eletrônico a sua frente, basta ter controle de suas ações e não se deixar envolver em vícios, o que não pode é parar a evolução tecnológica. Eu tenho meu relax a hora que desejar, não importa se na minha frente haja mil celular ou mil telas de video, me desligo do mundo fecho os olhos e durmo.Muitos reclamam da tecnologia mas nao vivem sem ela.
Impressionante mesmo a forma pela qual as pessoas se culpam ou se martirizam por não fazer nada por alguns instantes.
Mesmo porque a definição "fazer nada" é muito errada. Estamos fazendo, mas fazendo "para dentro" e não "para fora" como nos cobra o mundo e a sociedade o tempo todo.
O resultado disso é uma sociedade doente que você definiu perfeitamente no texto, muito bom, aliás. Pessoas que não se conhecem, não sabem o que querem, não sabem o que buscam nem como atingir um grau satisfatório de realização pessoal.
Mergulhar para dentro por uns instantes hoje é artigo de luxo, precisa-se de permissão de vários níveis e de assinatura reconhecida. E quando se consegue... ou dá medo, ou não se sabe o que fazer com isso... Triste.
Pois é. Há uma enorme diferença entre não fazer nada e estar quieto.
por isso deixei de usar meu celular até "desviciar-me"
você aborda um outro olhar sobre a ansiedade.
é o mal do século ! rs
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