O segundo poema chama-se O Ovo podre. Selecionei-o por achar impressionante a capacidade de João Cabral de descrever algo tão normal de uma forma tão incomum e ainda passar algumas reflexões. O terceiro faz uma alusão a Clarice Lispector, traz uma brincadeira, inclusive, da relação dela e da nação - principalmente dos homens - com o futebol. Por isso, achei interessante destacar.
Naturalmente, todos os poemas possuem uma beleza poética incrível, um trabalho impressionante com a forma.
O Último Poema
Não sei quem me manda a poesia
nem se Quem disso a chamaria.
Mas quem quer que seja, quem for
esse Quem (eu mesmo, meu suor?),
seja mulher, paisagem ou o não
de que há que preencher os vãos.
fazer, por exemplo, a muleta
que faz andar minha alma esquerda,
ao Quem que se dá à inglória pena
peço: que meu último poema
mande-o ainda em poema perverso,
de antilira, feito em antiverso.
O Ovo Podre
Por que a expressão do que não houve
não chega à força do ovo podre?
Há muitos podres pelo mundo,
muitos decerto mais imundos.
O podre do ovo está contido
para a maioria dos sentidos
e à vista não há diferença
entre sua saúde e sua doença.
Por que é que o ovo podre, então,
parece pesar mais na mão?
Será que pesa mais o real
quando em defunto, em pantanal?
Contam de Clarice Lispector
Um dia, Clarice Lispector
intercambiava com amigos
dez mil anedotas de morte,
e do que tem de sério e circo.
Nisso, chegam outros amigos,
vindos do último futebol,
comentando o jogo, recontando-o,
refazendo-o, de gol a gol.
Quando o futebol esmorece,
abre a boca um silêncio enorme
e ouve-se a voz de Clarice:
Vamos voltar a falar na morte?
Aos que gostam do poeta, aconselho a compra do livro "O cão sem plumas" (clique para conferir). Ele contém alguns de meus livros favoritos do João Cabral. Também é valido checar o livro "Melhores poemas de João Cabral", acho que o título é auto-explicativo.
6 Comentários:
Eu gosto muito de João Cabral. As vezes não entendo muito bem, é difícil, mas depois de um esforço sempre acabo compreendendo melhor e acho muito bom.
João Cabral é demais. Bom q posata coisas dele aqui, é difícil de achar coisas dele na net.
Mestre.
Abraço,
Adriano Vinagre
tb gosto dos poemas de João Cabral de Melo Neto. Muito embora, conheça poucos poemas dele, mas um em particular, me chamou a atenção é um que fala da catação de feijão, no qual o autor emprega de maneira simples e ao mesmo tempo complexa (fazendo uso de metáforas) coisas coriqueiras; dando assim beleza e magnitude ao poema .De tão simples chega a ser belo.
eu gostei muito, amo esse poeta usei seu site como referencia em trabalhos escolares muito bom msmo.
Esta de parabéns com o site só o banner principal que eu acho que se vse criasse algum logotipo seria espetacular! Mas esta de parabéns em quesito conteúdo!
Legal, fico muito feliz que tenha gostado do blog =)
Espero que siga acompanhando.
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