Não sorria, o negócio é sério – o som oco da cabeça no concreto. Tórax, cintura, bolsos, entre as pernas, tornozelos, de frente. Olha pra baixo, seu preto – o barulho do destravamento da arma é límpido.
Quem é você, seu preto, que passa por essa rua como se nada devesse? Escuta aqui, seu preto, se entrar na minha mira de novo não tem perdão.
O preto vê na parede a mancha vermelha sobre o acinzentado do muro e passa a mão na testa úmida. O preto recolhe do chão suas coisas em um ritual religiosamente silencioso. O preto firma os passos tentando se lembrar do caminho.
Saiba, se você não é preto: eu sou. Cuidado, se você não for preto: eu sou. Atenção, se você não for preto: eu sou.
Cizenando Cipriano - @cizenando_ - é colaborador do Na Ponta dos Lápis; jornalista da área esportiva, com passagens por MB Press (UOL e IG), LANCE! e Rádio Nacional. Você pode encontrar mais textos do autor, com algumas pitadas humorísticas, no blog Pau Na Mesa.
5 Comentários:
Cizenando, como sempre, contundente. Mas na medida. Sem demagogia e, mesmo que em prosa, sem perder a poesia.
Pois é. Como disse via twitter, sempre gostei muito dos textos dele, fico feliz que ele tenha aceitado publicar por aqui.
Esse conto é relevante, poético e muito real. Achei bem interessante mesmo colocá-lo por cá.
Gostei do primeiro texto e gostei desse tbm, rsrs. Fala de uma coisa séria mas de um jeito diferente.
Olá a todos. Primeiramente, obrigado pelas palavras iniciais. Espero que este texto tenha conseguido chegar a todos que o leram, comunicado. Por isso é bom o papo aqui nesta janelinha para o mundo, hehe, para tentar entender um pouco como mais esta pequena provocação ao pensamento bateu em vocês. Elogios, críticas, observações. Um conto sem título é um convite explícito, hehe.
Abraço
Eu sou!
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